Jogar à dourada

Há dias escrevi que um dos serões tradicionais na fajã é jogar às cartas, e que um dos jogos mais usuais se trata da "dourada".

Trata-se de uma variante do jogo do truco e que, segundo sei, já é muito pouco usado a não ser neste sítio.

Tal como o truco o jogo tem como princípio uma disputa de três rodadas para ver quem tem as cartas mais "fortes" (de valor simbólico mais alto), baseado no blefe e sem envolvimento de apostas em dinheiro.

A Sequência das cartas começando pelo valor mais alto é a seguinte:

• dama de ouros (dourada)
• valete de paus (trancão)
• cinco de espadas (espadilha nova)
• rei de ouros (rei novo)
• quatro de paus (zapte)
• sete de copas
• ás de espadas (espadilha velha)
• sete de ouros
• todos os "3"
• todos os "2"
• todos os "1", à excepção de o de espadas
• todos os reis menos o de ouros
• todos os valetes, exceptuando o de paus
• as damas sem a de ouros
• os "7" de paus e de espadas
• todos "6"
• todos os "5" menos o de espadas
• os "4" sem os de paus.

Joga-se com seis pessoas que recebem três cartas cada, as quais podem mostrar aos seus parceiros. Ganha-se um ponto(um risco) à melhor de três. Ganha a equipa que fizer trinta pontos( dez grupos de três pontos) em primeiro lugar.

Qualquer jogador pode dizer "TRUCO" e caso os adversários não abandonem a jogada(ir para casa) e a sua equipa vença ganham três pontos( uma bolha) caso contrário a equipa adversária ganha os três pontos(bolha). Caso o jogador que joga a seguir àquele que disse truco julgue que este está a fazer blefe (trucar de falso) pode dizer "SEIS" e ao jogarem as cartas a equipa que ganhar, ganha seis pontos(duas bolhas).

Como dá para ver o jogo ainda está bem enraizado na fajã d'além, por isso mesmo

não tenho a pretensão de querer ensinar ninguém, pois nem seria a pessoa mais indicada para o fazer, apenas deixo aqui algumas dicas de como se joga, com o intuito de não se perder de todo.

Para aqueles que nunca jogaram ou nunca viram jogar, convido-os a vir passar um serão connosco.

Domingo Gordo na Fajã D'Além

Há quem escolha passar o carnaval na fajã d'além, longe das festas,  bailes e folias.

Fevereiro já vai a meio, o sol regressa à fajã. E com ele chega a altura de começar a tratar dos primeiros cultivos. Daqui a nada são as "cavagens" e é necessário ter alguma coisa já adiantado.

Então para isso não há nada melhor que apanhar um fim-de-semana prolongado. E assim junta-se o útil ao agradável. Aproveita-se para fazer alguma coisa e para nos divertirmos  uns bocados com os amigos.
De dia, enquanto o tempo deixa, trabalhamos um bocado: plantamos cebolinho, semeamos alhos e batatas, limpamos a vinha, etc; e à noite juntamo-nos em casa de algum amigo a comer alguma coisa e a jogar às cartas.

Este Domingo Gordo estavam mais de meia dúzia de casas com pessoas na fajã. À noite, a maior parte,  juntamo-nos em casa do senhor José Guilherme a comer um excelente "caldo de funchos", confeccionado pela esposa, Sra. Olga, e de seguida jogamos à "Dourada"( jogo de cartas tradicional, parecido com o truque, e que já é jogado em poucos sítios, mas que o pessoal da fajã tenta manter e ensinar os que nos visitam) . Podem crer que foi um serão bem passado.